Nova droga contra obesidade, aprovada recentemente, pode danificar célula do pâncreas

Medicamentos são importantes recursos na cura de doenças e melhoria e manutenção da saúde, mas devemos lembrar sempre que são substâncias estranhas que colocamos no nossos organismo e os resultados nem sempre podem ser totalmente previstos.

Cada organismo reage de uma forma diferente, e os efeitos maléficos que podem surgir a longo prazo, produzidos por um medicamento somente podem aparecer ao longo de meses, anos anos ou até mesmo décadas de uso.

Ainda no início deste mês, noticiamos a aprovação recente pela ANVISA, da lariglutida para o tratamento da obesidade, uma droga já utilizada para o tratamento do diabetes tipo 2. Até aí tudo bem, porém, o resultado do experimento foi descrito em estudo publicado na edição do mês passado da revista “Cell Metabolism”, assinado por pesquisadores da Universidade de Miami (EUA) e do Instituto Karolinska (Suécia) e aponta para o risco da liraglutida destruir as células-beta que produzem a insulina, quando utilizada por longos períodos.

A liraglutida funciona ao simular a ação do hormônio humano GLP-1, que estimula a liberação de insulina por células-beta do pâncreas. Essa insulina extra ajuda a regular os níveis de glicose no organismo, por isso a droga consegue controlar os sintomas da diabetes num período inicial.

O uso a longo prazo, porém, pode fazer com que as células-beta sofram um esgotamento e percam a capacidade de produzir insulina — ao menos isso é o que mostrou o estudo com os roedores.

O efeito, segundo cientistas dos EUA e da Suécia que realizaram o experimento, surgiu após os camundongos serem submetidos a um tratamento de liraglutida por mais de oito meses — período de tempo grande para um animal que costuma viver cerca de dois anos.

Cobaias ‘humanizadas’

Como o sistema metabólico dos roedores é diferente dos humanos, porém, os cientistas usaram uma estratégia diferente para submetê-los ao experimento.

Para o estudo, os camundongos tiveram células-beta humanas implantadas junto a seus globos oculares, e foram essas as células avaliadas no estudo. No jargão biomédico, essa estratégia é chamada de uso de “cobaias humanizadas”.

Os pesquisadores acompanharam então os implantes nos animais. Depois um período inicial, as células demonstraram melhora de função sob o efeito da liraglutida, mas após seis meses começaram a se deteriorar, passando a produzir cada vez menos insulina.

Segundo os cientistas, o resultado do estudo é “preocupante”, mas ainda não permite dizer se o mesmo problema deve ocorrer com humanos em condições reais de tratamento pela droga.

“Precisamos levar em conta esses resultados antes de prescrever análogos do GLP-1 para suprimir glicose sanguínea quando planejamos regimes de tratamento de longo prazo para pacientes” afirma Per-Olof Beggren, do Instituto Karolinska, um dos líderes da pesquisa, em comunicado à imprensa.

Fica o alerta desta coluna: "somente utilize medicamentos quando prescritos pelo seu médicos e orientado pelo seu farmacêutico. Nunca siga modismos em tratamentos para obesidade, podem trazer-lhes sequelas gravíssimas".

 

Fonte: 180 Graus - Por José Vilmore