Pesquisa mostra que pancada no cérebro acumula proteínas do Alzheimer

Pacientes com lesão moderada ou grave na cabeça desenvolvem aglomerados de proteínas associadas com a doença de Alzheimer (DA) no cérebro. A descoberta, descrita na última edição da revista Neurology por pesquisadores do Imperial College London, no Reino Unido, ajuda a explicar por que pessoas que sofrem traumas cranianos moderados ou graves apresentam risco aumentado para a demência, fato constatado em estudos prévios por esse e outros grupos de pesquisa.

“As consequências de um ferimento na cabeça são consideradas deficiências escondidas. Embora os pacientes apresentem exteriormente uma boa recuperação quando os encontramos anos mais tarde na clínica, eles podem estar com problemas persistentes que afetam a vida diária, como deficiências na concentração e na memória”, diz Gregory Scott, principal autor e pesquisador do Departamento de Medicina da instituição britânica.

Apesar de bem documentados, os processos biológicos por trás da relação de trauma craniano e demência não são completamente conhecidos pelos cientistas. Eles já observaram, contudo, que esses processos se desenrolam ao longo dos anos. “A correlação é bem fixada na literatura. Existe um tipo de transtorno muito famoso, a demência pugilística, ou encefalopatia traumática crônica, que surge em pessoas que tiveram muitos traumas na cabeça em decorrência de esportes, como o boxe. Depois de algum tempo, esses atletas têm alterações cognitivas e motoras, o que ocorreu com o Maguila e o Muhammad Ali”, explica Bruna Mendonça Lima, neurologista do Hospital Santa Luzia, em Brasília, e membro da Academia Brasileira de Neurologia.

Segundo Bruna Mendonça, uma revisão de literatura conduzida por pesquisadores da Universidade de São Paulo em 2005 detectou que, pelo menos no cérebro de pacientes com demência pugilística, há a presença de emaranhados neurofibrilares. Os estudiosos não encontraram, porém, o que a pesquisa de Scott revelou: pessoas lesionadas na cabeça desenvolvem placas beta-amiloide logo após o incidente traumático. Os resultados recentes sugerem que o acúmulo continua se agravando por mais de uma década. “Isso ajuda a lançar luz sobre o porquê de pacientes com lesão cerebral apresentarem um risco aumentado de demência, podendo nos ajudar a desenvolver tratamentos que reduzam essa suscetibilidade”, considera Scott.

Varredura
A equipe estudou nove pacientes, de 38 a 55 anos, com lesões cerebrais moderadas e graves, muitas delas provocadas por atropelamento ou acidente de motocicleta entre 11 meses e 17 anos antes do início da análise científica. Embora os voluntários não apresentassem deficiência física relacionada à lesão, a maioria sofria com problemas de memória e concentração. Os pacientes foram submetidos a varreduras cerebrais com tomografia por emissão de pósitrons e ressonância magnética. As técnicas permitem a visualização das placas beta-amiloide, aglomerados de proteínas que induzem a morte de células cerebrais e estão fortemente associados ao desenvolvimento do Alzheimer.

Fonte: Correio Braziliense