CRF/RJ protocola representação disciplinar na Câmara dos Vereadores e diretores se reúnem com a farmacêutica Dra. Camila

 

Dra. Camila Ferreira conta à diretoria do CRF que ficou indignada com a truculência do vereador Gabriel Monteiro e diz que não deseja isso para mais ninguém.

 

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A farmacêutica, responsável técnica da Unidade de Saúde Maia Bittencourt, conta como foi a “fiscalização” em detalhes e admite que por um momento pensou que fosse ficar sozinha diante da reação que teve contra o parlamentar.


Dra. Camila Ferreira, 42, farmacêutica há 13 anos na Atenção Básica de Saúde, lotada no CMS Maia Bittencourt, localizado em Barra de Guaratiba, recebeu a vice-presidente, Luzimar Gualter, e o secretário-geral, Marcelo Medicinal, na última sexta-feira (27/05). Durante o encontro, a responsável técnica da unidade contou, em detalhes, como foi a abordagem do parlamentar Gabriel Monteiro, na tarde da última terça-feira (24/05), e que nunca passou por algo parecido desde que iniciou a trabalhar nas unidades de saúde.


Após a invasão no seu local de trabalho, ela revelou que se sentiu indignada e com a sensação de ter sido assaltada, afinal, sua dignidade foi surrupiada pelos abusos descabidos e inadequados do vereador. Conforme os seus relatos, o parlamentar esteve naquela Unidade de Saúde, para verificar denúncias por falta de atendimento médico, o que segundo a farmacêutica não era verdade.


- Havia médico atendendo e, como tínhamos alta demanda neste dia, o nosso atendimento estava mais demorado –, disse Dra. Camila.


Algumas destas imagens foram compartilhadas pelo próprio vereador no seu canal nas mídias sociais. Não conformado por não ter encontrado os problemas relatados nas denúncias, ele inicia uma “cruzada” na busca de problemas para justificar a sua ida à unidade. Até que ele se depara com a entrada da farmácia do estabelecimento de Saúde, que recebia pacientes e funcionava normalmente.


Na ocasião, o vereador informou à farmacêutica que estava entrando para fazer uma “fiscalização”. Dra. Camila esclareceu que preparava um relatório semanal para enviar à Secretaria Municipal de Saúde, no qual apresenta a movimentação no estoque de medicamentos da farmácia, quando, de repente, escutou dele: “vou entrar aqui para fiscalizar a farmácia”. Ela retrucou perguntando: “baseado em que? Tem algum documento constando alguma denúncia de falta de medicamentos ou medicamento vencido?”


O vereador respondeu que não precisava disso, que ia entrar, porque entrava na hora que quisesse e fiscalizava onde quisesse. O parlamentar acrescentou que mexeria onde quisesse. Segundo Dra. Camila, nos contou que, neste momento, ela iniciou um debate com o vereador, questionando o motivo da “fiscalização”. Ele levantou as mãos, estufou os peitos e entrou dizendo que não estava tocando nela, fazendo com que a farmacêutica andasse para trás, pois a interpelação não surtia efeito. Segundo Dra. Camila, foi quando ela o interpelou:


- Não é assim, não. Eu sou a farmacêutica responsável. O que o senhor quiser de esclarecimentos pode me perguntar. Se quer esclarecimentos sobre uma falta de medicamento ou uma planilha com as movimentações de medicamentos, estou na frente do computador e posso te apresentar isso agora – descreve ela.


A todo momento, conforme vídeo compartilhado nos aplicativos de mensagens eletrônicas, ouve-se que ela dispara frases como:
- Eu sou a responsável técnica pelo setor. O que senhor deseja exatamente? Precisa me dizer o que quer para que eu possa te responder. Não sabe o que é um antibiótico, um anti-hipertensivo. Eu posso te mostrar o que é isso aqui dentro da farmácia - adverte a farmacêutica diante do parlamentar.


Conforme amplamente divulgado, nos vídeos que circulam pela internet, o vereador respondeu da seguinte forma.
- Você não é responsável por nada aqui. Você é responsável pelo seu cabelo, pelo seu sapato. Aqui dentro você não é responsável de nada. Eu nunca ouvi falar de ti e nem quero saber quem você é – desdenha o vereador.


Ela conta que essa postura do parlamentar, vendo ele mexer nos medicamentos, tirando-os do lugar aleatoriamente, a deixou muito indignada, porque ela desejava mostrar para ele a farmácia e, ao mesmo tempo, tentava compreender o verdadeiro motivo da “inspeção”. Dra. Camila acrescenta que, a partir desse momento, já não sabia mais o que fazer diante daquela situação à qual estava sendo submetida.


- Não é assim que se faz uma fiscalização. Não é assim que se faz uma vistoria numa farmácia. Não era daquela forma aleatória. Nada que eu falasse o fazia parar de mexer nas prateleiras – desabafa ela para a diretoria do CRF-RJ.


Até que ele chega numa prateleira onde ficam os medicamentos segregados (aqueles medicamentos que estão vencidos e prontos para serem recolhidos a qualquer momento) e escuta dele a seguinte frase: “É para isso que eu sirvo. É para fiscalizar tudo, porque se eu não fizesse isso estaria tudo vencido”. Então, ele pegou o único medicamento que estava segregado para ser recolhido e levou à área comum, como se fosse usado para dispensação, dizendo para uma paciente: “olha isso, um medicamento vencido.”


A farmacêutica perguntou à paciente que já frequenta a unidade por pelo menos cinco anos se, em algum momento, recebeu medicamento vencido. A paciente responde que nunca recebeu. Dra Camila então indaga ao vereador se não iria filmar a paciente que o desmentia. Ele sorriu e disparou que filma o que eu quiser.


A farmacêutica revelou que aparecer nas notícias veiculadas pela imprensa e nas publicações nas mídias sociais foi uma surpresa muito boa, pois, sobretudo, percebeu que o CRF-RJ e os amigos de profissão enxergaram também a truculência e o abuso de poder exercido pelo parlamentar.


- Quando eu me vi junto com eles e vi a força deles junto comigo mostrando que a atitude dele estava errada foi muito prazeroso. Quero muito agradecer ao CRF-RJ e ao CFF pelo acolhimento e apoio. Peço que juntos não deixemos isso ocorrer novamente com nenhum colega de profissão. Estamos aqui para trabalhar, para ser fiscalizado, mas da forma correta. Nunca com abuso da forma que sofri. Nunca com a coação como ele fez comigo. Ele não tem que fazer isso com ninguém. Se ele quer realmente fazer a fiscalização ou quer saber a verdade por alguma denúncia que chegue ao conhecimento dele, que ele possa fazer da forma correta. Não pode fazer de uma forma bruta e brusca da forma que fez comigo. Nenhum profissional, de qualquer profissão que seja, merece passar por isso – diz emocionada.


E ela finaliza enviando a seguinte mensagem para a classe farmacêutica de todo o país.
- Juntos somos mais fortes. Temos que mostrar porque realmente estamos aqui. Não estamos numa Unidade Básica de Saúde ou atrás de um balcão simplesmente para dizer que tem um farmacêutico. Nós somos presentes e sabemos o que precisa ser feito da melhor forma possível. Peço a todos os farmacêuticos que sejamos unidos nessa corrente. Precisamos mostrar o nosso valor. Não somos omissos e não seremos em momento algum do nosso serviço, seja na dispensação, seja numa orientação ou em um controle de estoque. Somos farmacêuticos com todas as responsabilidades que nos competem e vamos mostrar que serão feitas dentro daquilo que precisamos fazer.

 

Representação disciplinar

O Conselho Regional de Farmácia do Rio de Janeiro (CRF-RJ) protocolou uma representação disciplinar por ato praticado pelo vereador na Câmara dos Vereadores, na última sexta-feira (27/05). No ofício, o CRF-RJ afirma que o parlamentar violou os direitos fundamentais do vereador constantes na Lei Orgânica do Município do Rio de Janeiro e que praticou atos incompatíveis com o decoro parlamentar.


O CRF-RJ ressaltou que o modus operandi do parlamentar tomou conhecimento nacional e que chocou a sociedade, não só pela forma truculenta dispensada ao profissional farmacêutico e servidores, mas pelo desapego à Leis e balizas Constitucionais.


O documento complementa que o vereador invadiu o local reservado para medicamentos, manuseou prateleiras e medicamentos de forma desorientada, ignorando por completo as informações do profissional farmacêutico e, sobretudo, conduzindo a fiscalização de forma exibicionista, tratando os servidores de forma grosseira e arrogante.