As grandes filas à espera de atendimento e a má qualidade de serviços oferecidos em hospitais constatadas pela população em pesquisa de opinião encomendada pelo Conselho Federal de Medicina são fruto, entre outros fatores, de um problema em comum: o financiamento precário. O Brasil investe em saúde pública um valor proporcionalmente inferior à metade do que gastam países desenvolvidos com serviços semelhantes ao Sistema Universal de Saúde (SUS). Enquanto os recursos da União, de estados e municípios com a saúde pública representam 4,1% do Produto Interno Bruto (PIB), a Espanha investe 7,1%, o Reino Unido, quase 8%, e o Canadá, 7%, por exemplo. Para especialistas, o baixo financiamento interfere diretamente na qualidade dos serviços.
O investimento total em saúde corresponde a cerca de 9% do PIB. Desse valor, entretanto, quase 5% são para despesas privadas, como os gastos com remédios e planos de saúde. Pesquisa feita pelo Datafolha a pedido do Conselho Federal de Medicina mostrou que pelo menos nove em cada 10 pessoas estão insatisfeitas com os serviços de saúde no Brasil, tanto público quanto particular.
A presidente do Centro Brasileiro de Estudos em Saúde (Cebes), Ana Maria Costa, diz que as contas mostram que o sistema público não é prioridade. "O gasto público brasileiro é aquém de países com sistema universal", diz. Quem acaba prejudicada é a parcela mais pobre da população. "A faixa mais pobre gasta mais com medicamentos, enquanto os que ganham mais gastam com planos. Temos um panorama que acirra a desigualdade social no Brasil."
Para a professora do Instituto de Estudos em Saúde Coletiva da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Lígia Bahia, o financiamento atual é suficiente para "meio SUS". "Temos um orçamento deficitário. O que foi proposto na Constituição é muito maior", diz. Lígia se refere à previsão da Carta Magna para o uso do orçamento da Seguridade Social — que foi de R$ 456,3 bilhões em 2011, por exemplo — com a saúde. A transferência não ocorre na prática. "A saúde tem sido financiada com um orçamento insuficiente para arcar com um setor que tem, necessariamente, expansão de gastos", diz Lígia. Para as especialistas, é urgente que a União se comprometa a gastar