Automedicação no Brasil

Pesquisa realizada pelo Instituto de Pesquisa e Pós-Graduação para Farmacêuticos (ICTQ) revelou um dado alarmante: 76,4% da população brasileira fazem uso de medicamentos a partir da indicação de familiares, amigos, colegas e vizinhos. São pessoas que declaram consumir qualquer tipo de medicamento em um momento de necessidade.


O estudo foi realizado em 12 capitais brasileiras. Os índices mais elevados de pessoas que consomem esses produtos com indicação de familiares e amigos, estando acima da média nacional de 76,4%, estão em Salvador (BA) e Recife (PE), com 96%; Manaus (AM), com 92%; Rio de Janeiro (RJ), com 91%; Brasília (DF) e São Paulo (SP), com 83%; e Belém (PA), com 78%. Dentre as capitais com os menores índices estão Belo Horizonte (MG), com 35%; Porto Alegre (RS), com 49%; Fortaleza (CE), com 53%; Goiânia (GO), com 65%; e Curitiba (PR), com 66%.


Isso revela um fato recorrente, que vem sendo debatido por todos os segmentos do mercado farmacêutico e o Governo: o sério problema do Brasil do uso indevido dos medicamentos e da automedicação. Nesse sentido, vale ressaltar que o estudo pontuou ainda que, em média, 32% da população aumentam a dose de medicamentos para potencializar seus efeitos terapêuticos de forma mais rápida. As capitais onde este índice é mais crítico são Curitiba (PR), com 65%; Brasília (DF), com 57%; e Manaus (AM), com 52%.


“O consumo de medicamentos indicados principalmente pela família e amigos é cultural no Brasil. Apesar de boa parcela da população já ter ciência dos riscos da automedicação, somente 23,6% dos brasileiros declaram consumir esses produtos estritamente prescritos pelos médicos, farmacêuticos, odontólogos ou enfermeiros”, lamenta o diretor de pesquisa do ICTQ, Marcus Vinicius de Andrade.
O executivo afirma que existem dois aspectos muito importantes nesses índices relacionados à automedicação no País: o primeiro aspecto é que se trata de uma problemática de saúde pública que atinge mais de 70% da população e que precisa de soluções imediatas. O segundo é que esse problema representa, principalmente para os farmacêuticos, uma oportunidade de ganhar espaço como profissional promotor de saúde dentro das farmácias e drogarias.

Maiores e menores índices

As capitais onde a população mais faz uso de medicamentos por indicação de familiares e amigos, colocando-se acima da média nacional (76,4%), são:
• Salvador (BA) e Recife (PE) – 96%
• Manaus (AM) – 92%
• Rio de Janeiro (RJ) – 91%
• Brasília (DF) e São Paulo (SP) – 83%
• Belém (PA) – 78%

Por outro lado, as capitais com os menores índices de consumo por indicação de família e amigos, e que estão abaixo da média nacional, são:
• Belo Horizonte (MG) – 35%
• Porto Alegre (RS) – 49%
• Fortaleza (CE) – 53%
• Goiânia (GO) – 65%
• Curitiba (PR) – 66%


“A falta de controle da venda de itens de tarja vermelha e a comercialização dos Medicamentos Isentos de Prescrição (MIPs), estimulada fortemente pela propaganda através de artistas que recomendam esses produtos no rádio e na TV, promovem e fortalecem a cultura da automedicação, a tal ponto que as campanhas governamentais, no sentido contrário desse comportamento, são praticamente anuladas”, critica Andrade.

Dado alarmante

A pesquisa revelou que 32% da população brasileira que consome medicamentos chega a aumentar a dose desses itens, por conta própria, para potencializar os efeitos terapêuticos de forma mais rápida.


Vale lembrar que nos últimos cinco anos o Brasil registrou quase 60 mil internações por intoxicação medicamentosa, segundo dados do Ministério da Saúde. Somente no Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo são 600 casos ao mês. Apesar dessa frequência, a população demonstra não estar atenta aos riscos da automedicação que, em muitos casos, leva o paciente à morte.


O ICTQ já entrou nessa batalha contra a automedicação. Desde fevereiro vem promovendo uma campanha nacional sobre o uso racional de medicamentos. O projeto oferece dados inéditos de pesquisas sobre o tema, charges nas mídias sociais, como as que podem ser vistas ao longo desta reportagem, e exposições de peças exclusivas nos principais shoppings nacionais que levam informações relevantes sobre o uso consciente de medicamentos para mais de 50 milhões de brasileiros de todas as regiões.


“Trata-se da maior iniciativa de conscientização sobre a importância do farmacêutico na saúde dos brasileiros. Em muitas farmácias é o atendente quem sugere os produtos e isso expõe a população às complicações de quadros clínicos de saúde e até ao risco de morte”, afirma Andrade.


Segundo o professor do ICTQ, Leonardo Doro, esses dados são preocupantes e levam à pergunta inevitável: Por que isso ocorre de maneira tão endêmica? “Todas as respostas passam pela ineficiência da atenção primária à saúde, disponibilizada para a população, e não sistematização do oferecimento adequado de serviços farmacêuticos.” Ele afirma que algumas das principais causas apuradas pelo ICTQ para o uso inadequado de medicamentos foram o consumo por indicação de familiares e o aumento da dose de medicamentos para potencializar efeitos terapêuticos de forma mais rápida. “O vácuo deixado por décadas de negligência no atendimento básico e a ausência do profissional farmacêutico na atenção primária fizeram com que esses hábitos fossem criando raízes cada vez mais profundas em nossa sociedade. O fantasma da automedicação causa prejuízos imensuráveis à saúde da população e ao erário público brasileiro.”

 

Fonte: Guia da Farmácia - Maio/2014