Usando datação por radiocarbono, pesquisadores da Universidade de Copenhague, na Dinamarca, descobriram que a cartilagem humana raramente se regenera na vida adulta. O estudo, publicado na Science Translational Medicine desta semana, sugere que os tratamentos atuais para doenças da articulação são ineficientes, e que a prevenção é a melhor estratégia para combater as complicações que acometem 10% da população mundial e mais de 10 milhões de brasileiros, sobretudo as mulheres.
A técnica de datação de carbono-14 empregada pelo reumatologista Michael Kjaer mostra que a cartilagem é, essencialmente, um tecido permanente em adultos com ou sem diagnóstico de osteoartrite. “O fato de não existir renovação explica por que é tão difícil curar ou recuperar a cartilagem”, diz Kjaer. “A característica especial dela é que, uma vez lesionada, não há potencial de regeneração. Queríamos saber se existe um turnover muito lento no tecido que não pode ser influenciado ou então se esse tecido é fixo, imutável.”
Ortopedista do Hospital Santa Lúcia, em Brasília, Julian Machado explica que turnover é o nome dado ao processo natural de renovação natural das células cartilaginosas, os condrócitos. “Na prática clínica, havíamos observado que não há renovação da cartilagem. Existem muitos estudos buscando formas de fazer com que o tecido volte a funcionar. Alguns investigam células-tronco, outros, cultura de cartilagem. O trabalho desses cientistas bate de frente com tudo isso: eles dizem que não adianta procurar tratamentos, pois a cartilagem é um tecido impossível de regenerar”, explica o médico, que não participou do estudo.
A pesquisa de Kjaer usou o método do pulso de bomba, que explora o fato de que todos os organismos vivos incorporam, pela dieta, o carbono-14 da atmosfera (veja arte). Os níveis atmosféricos desse isótopo de carbono aumentaram na Guerra Fria, período em que bombas nucleares foram testadas. Estudos anteriores haviam apontado aumento na síntese de colágeno nos pacientes com osteoartrite, o que poderia representar a tentativa do tecido de se autorreparar. Mas Kjaer não detectou esse efeito após datar o carbono-14 em amostras de cartilagem de 23 voluntários nascidos entre 1935 e 1997, sendo que oito eram saudáveis e 15 tinham osteoartrite.
Melhor prevenir
Diante disso, Kjaer acredita que a postura mais indicada é a prevenção. “Se pudéssemos medir e detectar a quantidade de cartilagem, talvez, conseguíssemos intervir nos estágios iniciais para prevenir as lesões”, supõe o autor. Richard Loeser, da Faculdade de Medicina da Universidade da Carolina do Norte, nos Estados Unidos, pensa o mesmo. “É preciso cuidar de suas articulações enquanto se ainda é jovem”, diz o reumatologista, que também não participou do estudo. “Depois de ter danos na cartilagem, não há mais chances de reparo.”
Fonte: Correio Braziliense