Manter tumor sob controle pode ser melhor que matá-lo

Tratamento tradicional do câncer que é feito nos últimos 60 anos pode estar com os dias contados. Essa terapia envolve submeter o paciente à maior dose tolerável de radiação ou quimioterapia com o objetivo de matar o maior número possível de células cancerosas. Mas uma alternativa, a terapia adaptativa, baseada nos princípios da “evolução” biológica, mostrou que é possível ter melhores resultados mantendo o tumor sob controle.

O estudo , feito em camundongos com câncer de mama, foi liderado por Robert Gatenby, do Instituto de Pesquisa e Centro do Câncer H. LeeMoffitt, de Tampa, Flórida (EUA), e está publicado na “Science Translational Medicine”. “Estratégias de tratamento convencional presumem que o benefício máximo é conseguido matando o maior número de células de tumor.

No entanto, através da eliminação das células sensíveis à terapia, esta estratégia acelera a emergência de células resistentes que proliferam sem oposição por parte de competidores”, escrevemos autores. Isto é, com a quimioterapia tradicional o tumor é quase todo destruído,mas sobraram células resistentes que voltaram a fazê-lo progredir.

Os pesquisadores testaram um enfoque distinto. Depois de estabilizar o tumor em um “platô”, eles passaram a usar doses menores e mais frequentes da químio. O objetivo era manter uma população estável de células sensíveis à droga, mas que competem com mais eficiência pelo substrato do organismo do que suas rivais resistentes. Resistir a drogas significa um toma-lá-dá-cá evolutivo.

As células resistentes gastam mais energia para produzir, manter e fazer funcionar as “bombas” nas membranas que eliminam a droga. Os roedores foram tratados com a droga paclitaxel,usada em humanos há vinte anos.

Os cientistas testaram a terapia convencional e duas versões da terapia adaptativa— deixando de dar a droga quando o tumor estava estável, ou ajustando a dosagem continuamente em sequência. Esse último enfoque deu os melhores resultados. “Em 60% a 80% dos animais, o contínuo declínio no tamanho do tumor permitiu intervalos tão longos quanto várias semanas em que o tratamento não foi necessário”, afirmam Gatenby e colegas.
“Há coisas curiosas na oncologia.

As drogas mudam e podem ser melhor toleradas”, diz o oncologista Max Mano, do Hospital Sírio-Libanês. Ele lembra que, no começo do uso da paclitaxel, a dose usada no câncer de mama era de 175 mg/m² da paciente (isto é, ligada ao tamanho da pessoa),acada 21 dias. Já nos anos 2000 estudos mostraram que era melhor usar uma dose menor, de 80mg/m²,semanalmente. A droga era, inclusive, melhor tolerada.

“Os estudos nos EUA contribuem para dar explicações para esses fenômenos.” “Essa nova visão ecológica apoiada por evidência experimental”, escreveu Giannoula L. Klement, daUniversidade Tufts (Boston), na mesma edição da revista científica, “também explica observações clínicas pouco compreendidas, como a dormência de tumores ou seus padrões de disseminação”.

Fonte: Folha de S.Paulo