Cientistas avançam no tratamento de condição que impede pessoas de sentirem dor física

A insensibilidade congênita à dor ou analgesia congênita é uma condição genética que faz com a pessoa não seja capaz de experimentar a dor física. Ela até sente a diferença entre água quente e água gelada ou entre uma faca afiada e outra cega, mas é incapaz de sentir aquela coisinha incômoda e sem formato que arde ou lateja a qual se convencionou chamar de dor.

Por mais sedutora que aparente ser em um primeiro momento, basta refletir um pouco pra entender que essa premissa é mais um problema que uma solução: sentir dor é a melhor maneira para evitar perigos e se recuperar o mais rapidamente possível de danos já ocorridos. É o nosso cérebro ficando consciente de que algo potencialmente ameaçador está acontecendo em algum lugar do nosso corpo.

Mas com algumas pessoas isso não ocorre. Quem nasce com determinadas mutações genéticas que comprometem o funcionamento do Nav1.7 – canal eletroquímico cuja função é ligar os nervos periféricos ao sistema nervoso central, levando os sinais de dor física para o cérebro – simplesmente não sabe o que é dor.

Mas, de uma tacada só, cientistas podem ter descoberto a chave para tratar pacientes com analgesia congênita e para aliviar pessoas que sofrem com doenças que geram dores fortes. Uma equipe da Universidade de Londres, da Inglaterra, desenvolveu ratos que não sentem dor e, durante os testes em laboratório, percebeu que os animais produziam uma taxa muito alta de peptídeos opioides, substância que age como uma inibidora natural da dor. Se os ratos apresentavam esse sintoma, eles imaginaram que o mesmo ocorre com humanos. Foi aí que eles chegaram na naloxona.

Ratos que sentem menos dor vivem por mais tempo
Criada nos anos 60, a naloxona foi desenvolvida para bloquear receptores opioides. Administrada em quem não sente dor, ela devolve ao organismo a comunicação necessária para que cérebro e nervos periféricos dialoguem normalmente. Durante os experimentos, uma mulher de 39 anos sentiu dor pela primeira vez ao ter sua pele queimada com laser.

Os cientistas também estão testando a possibilidade de emular os efeitos da analgesia congênita em quem sente muita dor. Ratos que receberam drogas opioides em conjunto com bloqueadores do canal Nav1.7 ficaram tão imunes à sensação de dor física quanto os ratinhos que nasceram com a condição genética. Agora os cientistas irão se dedicar a entender como esses dois usos específicos da naxolona interagem com nosso organismo a longo prazo.

Fonte: Galileu