A ciência deu mais um passo na tentativa de encontrar um tratamento que ajude os dependentes químicos a deixar a droga. Uma equipe da Universidade Federal de São Paulo está pesquisando um medicamento feito a partir da raiz de uma planta.
O remédio é forte. O paciente tem que ser monitorado o tempo todo e passa dez horas em uma espécie de sonho, onde vê uma retrospectiva de sua vida. A partir daí, a maioria consegue se livrar da droga.
A ibogaína é uma substância extraída da raiz da iboga, uma planta encontrada na África Central, usada em rituais religiosos. O medicamento é produzido no Canadá e liberado pela Anvisa.
Pacientes cardíacos ou com certas doenças neurológicas não podem usar a ibogaína. O paciente tem que ficar um mês sem usar nenhum medicamento, álcool ou droga. Depois de uma avaliação psicológica, o paciente é liberado para o tratamento.
Os primeiros pacientes foram tratados em clínicas de reabilitação. Ele recebe o medicamento em cápsulas e fica internado. O clínico geral Bruno Rasmussen Chaves acompanhou um grupo de pacientes. Os efeitos começam depois de três horas.
"Nessa situação de pensamento começa a ter o que a gente chama de expansão de consciência. Começa a entender melhor o que está acontecendo com ele, qual o espaço dele na vida dele, qual o espaço no mundo, no universo, começa a entender porque relacionamentos não estão dando certo, perceber os erros e os acertos, vê o que tem que mudar", diz o clínico geral.
Os pesquisadores contam que durante dez horas o paciente tem uma alteração na percepção, com a sensação de reviver a própria vida. Tem lembranças fortes, emoções e sob o efeito da ibogaína consegue ver antigos problemas de uma nova forma.
O paciente é liberado depois de 24 horas. Em seguida começa a psicoterapia. A maioria não precisou tomar outra dose do medicamento. O psiquiatra que coordenou a pesquisa Dartiu Xavier da Silveira atende dependentes químicos há 27 anos e ficou animado com os resultados.
"O estudo foi muito impressionante para gente em termos de resultados porque de 75 pacientes, 61% simplesmente abandonou a sua dependência seja de álcool, seja de crack ou cocaína. Os tratamentos habituais em geral, tratam ou curam de 30% a 35% dos dependentes. Então esse estudo preliminar é muito promissor", fala o psiquiatra.
Entretanto, ele lembra: é preciso vontade para se livrar do vício. "A ibogaína é um elemento promissor no tratamento da dependência desde que seja bem selecionado quem vai tomar, em que circunstâncias. Existe essa vivência psicológica, algo muito intenso, transformador, mas existem também vários estudos mostrando que tem regiões do cérebro que controlam os impulsos, a sua capacidade de gerenciar as coisas que você faz e o problema da dependência química é uma falta de controle do impulso. Então, na hora que você modifica essas regiões do cérebro através da ibogaína, você de uma certa forma, a gente até brinca, é como se você formatasse o disco rígido da sua cabeça, do seu cérebro. Você reinicia o seu cérebro. Ou seja, não existe mágica. Tratar dependência é algo complexo, é algo que não se resolve num estalar de dedos", finaliza Dartiu Xavier da Silveira.