Novos medicamentos contra hepatite C são mais eficazes

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 3% da população mundial pode estar infectada com o vírus da hepatite C. Ou seja, a estimativa é de que cerca de 170 milhões de pessoas estejam cronicamente infectadas, e destas, cerca de 350 mil morrem, por ano, no mundo. Além disto, há uma expectativa de que cerca de 3 a 4 milhões de novas infecções ocorram ainda este ano.

No Brasil, de acordo com a Sociedade Brasileira de Hepatologia (SBH), estima-se que 1,5 milhão de pessoas convivam com a hepatite C, a forma mais grave da doença. Cerca de 70% não sabe que tem a doença, o que acarreta atraso no início do tratamento. A boa notícia divulgada durante o último Encontro Nacional de ONG Hepatites Virais, ocorrido em São Paulo, é a incorporação de três novos medicamentos, pelo Ministério da Saúde, para o tratamento da hepatite C. Trata-se dos inibidores de protease sofosbuvir, o daclastavir e o simeprevir.

Para o médico Edson Roberto Parise, presidente da SBH, a principal vantagem dos novos medicamentos em comparação com os fármacos de uso convencional - interferon e ribavirina - é a redução do tempo de tratamento, bem como poucos efeitos colaterais. Enquanto, com as dorgas de uso convencional o paciente levava em média um ano em tratamento e com fortes efeitos colaterais, com as novas drogas, a expectativa é que em três meses já apresentem resultados. Sem falar que os efeitos colaterais são menores, uma vez que o organismo passa a ter pouco contato com a droga.

"O Brasil é um dos primeiros países a implantar a nova geração de medicamentos para as hepatites. Fomos um dos primeiros a implantar os inibidores de protease", explica Jarbas Barbosa, secretário de Vigilância em Saúde, do Ministério da Saúde. O objetivo é atender cerca de 50 mil pacientes que atualmente não respondem bem ao tratamento disponível na rede pública com medicação de via venosa. "Os novos medicamentos permitirá envolver os pacientes pré e pós-transplantados, além daqueles com infecções conjuntas, como o HIV", esclarece Fábio Mesquita, coordenador do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais, da Secretária de Vigilância em Saúde, do Ministério da Saúde.

A hepatite C, que é transmitido pelo vírus de mesmo nome, é contagiosa basicamente por intermédio de objetos perfurocortantes. De acordo com o hepatologista Renato Silva, do Hospital de Base, de Rio Preto, o vírus da hepatite C é transmitido pelo contato direto entre o sangue infectado devido ao compartilhamento de seringas e agulhas, ou outros instrumentos cortantes não esterilizados, como lâminas e alicates de unha.

Em estudo recente, da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, se encontrou maior prevalência de casos positivos nas faixas etárias intermediárias, o que só veio a confirmar os dados de que a hepatite C afeta pessoas de todas as idades, embora sua maior prevalência se dê entre homens com idades de 30 a 49 anos.

"A doença, a exemplo de todas as hepatites, evolui silenciosamente por décadas, sem qualquer manifestação clínica. A pessoa vai sofrendo um processo de fibrose e quando se dá conta, o órgão está deteriorado ao ponto de ter se transformado numa cirrose hepática", explica o hepatologista baiano, Raymundo Paraná.

Quando a doença evolui para a cirrose hepática, a única solução para evitar a morte é o transplante de fígado. "Infelizmente, na maioria dos casos que atendemos, a pessoa só descobre que tem o vírus da hepatite C quando o único e último tratamento possível já é o transplante de fígado, com a cirrose em estágio avançado", ressalta o médico Carlos Baía, coordenador dos transplantes de fígado, Hospital de Transplantes, de São Paulo.

Exames simples e vacinação

A identificação do problema não é difícil. Basta que se realize exames de sangue específicos para se obter o diagnóstico. O hepatologista Raymundo Paraná, da Universidade Federal da Bahia, explica que a hepatite, em si, é a inflamação crônica do fígado. Ele diz que, no caso da hepatite A e B, as causas são variadas e vão desde o uso de algumas medicações, doenças genéticas, imunológicas, causada por uso de chás e várias outras formas.

No caso da hepatite B, a transmissão se dá por trocas de fluidos corpóreos, por meio do sangue de uma pessoa contaminada, pela relação sexual sem o uso do preservativo, ou de mãe para filho pelo cordão umbilical. A boa notícia é que a doença já pode ser prevenida com vacina disponível na rede pública de saúde. Um levantamento divulgado pela Secretaria de Estado da Saúde revelou que 65% dos pacientes transplantados de fígado são portadores de hepatites B ou C que evoluíram para cirrose.

Tipos de Hepatite

Hepatite A

Transmitida normalmente por meio de alimentos ou contato pessoal. Vem e dura aproximadamente um mês. É uma infecção leve e cura sozinha. Existe vacina

Hepatite B

Transmitida principalmente através de relações sexuais e contato sanguíneo. Age surdamente no fígado por até 20 e 30 anos. Leva a cirrose, ao câncer de fígado e a morte. Há tratamento e vacina. As curas totais são raras, mas é possível conviver com a doença, tratando-a por períodos de tempo variáveis

Hepatite D

A infecção causada pelo vírus da hepatite D (VHD) ocorre apenas em pacientes infectados pelo vírus da hepatite B.
A vacinação contra a hepatite B também protege de uma infecção com a hepatite D

Hepatite E

É causada pelo vírus da hepatite E (VHE) e transmitida por via digestiva (transmissão fecal-oral), provocando grandes epidemias em certas regiões. A hepatite E não se torna crônica. Porém, mulheres grávidas que foram infectadas pelo vírus da hepatite E podem apresentar formas mais graves da doença

Hepatite F

Relatos recentes demonstram que não se confirmou a identificação do vírus da hepatite F (VHF). Prtanto, este tipo de hepatite pode ser desconsiderado

Hepatite G

O vírus da hepatite G (VHG), também conhecido como GBV-C, é transmitido através do sangue, sendo comum entre usuários de drogas endovenosas e receptores de transfusões. O vírus G também pode ser transmitido durante a gravidez e por via sexual. É frequentemente encontrado em co-infecção com outros vírus, como o da hepatite C (VHC), da hepatite B (VHB) e da aids (HIV)

Saiba mais

:: A hepatite C é uma doença causada por um vírus que agride o fígado, provocando uma inflamação que pode evoluir para cirrose e até câncer no órgão

:: O vírus da hepatite C é transmitido pelo contato direto entre o sangue infectado devido ao compartilhamento de seringas e agulhas, e do uso de instrumentos cortantes não esterilizados, como lâminas e alicates de unha

:: A maior parte dos pacientes infectados com hepatite C não tem qualquer sintoma, mas é possível identificar o vírus por meio de exames de sangue. Muitas vezes, a doença só é percebida anos após o contato com o vírus, em um estágio mais avançado, quando já há risco de cirrose e câncer no fígado. Não tem vacina. Existem subdivisões de seu vírus (o genótipo 1, 2 e 3 e os raros 4, 5 e 6)

:: No longo prazo, a doença pode levar até à necessidade de transplante do fígado. No Brasil, das 1,5 milhão de pessoas infectadas pela hepatite C, pode-se destacar que a doença seja responsável por 70% das hepatites crônicas, 40% dos casos de cirrose e 60% dos cânceres primários de fígado. A transmissão por relação sexual é rara

 

Fonte: Associação Brasileira dos Portadores de Hepatite (www.hepatite.org.br )