Procura por vacina contra gripe faz doses acabarem na rede particular

O medo de contrair o vírus H1N1 — que este ano já causou 18 mortes no estado — provocou uma corrida aos postos das redes públicas de saúde e às clínicas de imunização privadas, onde os estoques da vacina contra a gripe estão esgotados ou muito baixos. A grande demanda causou congestionamento nas linhas telefônicas das unidades particulares, que usaram as redes sociais e seus sites para alertar os interessados para o desabastecimento. Na Neovacinas, por exemplo, que tem filiais em Botafogo e na Barra, os estoques já estão esgotados desde a semana passada e não há previsão de novas remessas. Segundo a pediatra Maria Cristina Senna Duarte, diretora da clínica, o fato de os casos de H1N1 terem ocorrido mais cedo este ano levou a população a buscar proteção o quanto antes.

— As pessoas ficaram mais conscientes da necessidade de se imunizar e correram para a clínica. Acontece que a capacidade de produção de vacinas da gripe não correspondeu a essa procura — disse a médica.

A esteticista Carmen Luísa da Silva, de 33 anos, contou que passou a manhã de ontem telefonando para a filial da clínica Profilaxys na Tijuca e, como não conseguiu ser atendida, decidiu ir pessoalmente ao local para tentar vacinar o filho de 6 anos. Quando chegou, viu logo na porta do estabelecimento uma plaquinha informando: “Não temos vacina de gripe”

— O telefone só dava ocupado, então eu vim até aqui, mas dei azar. Não tem essa vacina da gripe em lugar algum. Já liguei para várias clínicas — disse ela, que foi no horário do almoço à clínica, que estava fechada.


SEM PREVISÃO DE REPOSIÇÃO

Mais tarde, por telefone, uma funcionária informou a Carmen que não há previsão de chegada do produto. Também lhe disse que não havia a vacina nas unidades de Botafogo e Barra 2. Segundo Carmen, informaram-lhe que os laboratórios não têm mais doses em estoque.

Uma equipe do GLOBO ligou para dez clínicas das zonas Sul, Norte e Oeste, para saber se a vacina contra o H1N1 está disponível. Em todas, a resposta foi a mesma: só havia a quadrivalente pediátrica (para menores de 3 anos), justamente a faixa etária de um dos grupos que podem ser imunizados nos postos de saúde gratuitamente, sem precisar desembolsar os cerca de R$ 150 cobrados na maioria dos estabelecimentos privados.

Há dois tipos de vacina: a trivalente, que progete contra o H1N1, o H3N2 (ambos vírus da influenza A) e uma cepa da influenza B, e a quadrivalente, que combate todos esses micro-organismos e mais uma outra cepa da influenza B.

A jornalista Mônica Lima, de 45 anos, procurou a filial da clínica Vaccini no Méier, no último sábado, para tentar vacinar a filha Laura, de 9. Quando chegou, um cartaz avisava sobre a falta do produto.

— A atendente disse que não há previsão para chegar. É preciso ficar acompanhando: ligando, vendo no site ou vindo aqui perguntar — disse Mônica, que foi informada pelo grupo de WhatsApp da escola da filha que ainda é possível encontrar doses numa clínica da Barra.

No site da Vaccini, um quadro com a data de ontem divulgava a disponibilidade de vacinas contra a gripe em todas as filiais. O texto, no entanto, deixava claro que não era possível “estimar o tempo de duração dos estoques”. De acordo com o aviso, no Estado do Rio só era possível achar doses da trivalente (adulto e pediátrica) em Macaé. Em nenhuma das 12 filiais havia estoque de vacina quadrivalente contra a gripe. Avisos semelhantes foram publicados nos sites das clínicas Neovacinas e Kinder.

A pediatra Maria Cristina Senna Duarte destacou que tanto a trivalente quanto a quadrivalente oferecem proteção contra o H1N1.

Dois laboratórios que fornecem vacina a clínicas no município alegam que a procura este ano foi acima da média. O Sanofi Pasteur informou que “atendeu a todas as solicitações realizadas antecipadamente pelas clínicas de vacinação”. Desde o fim de março, a empresa está fornecendo para todo o Brasil a trivalente. Também antecipou em cerca de três semanas a entrega da quadrivalente, que começou a ser distribuída em 11 de abril. Este ano, em comparação com 2015, o número de doses dessa vacina dobrou. Já o laboratório GSK destacou que a “demanda está muito acima do esperado devido ao recente surto de H1N1.” Acrescentou que, “em razão da complexidade de produção da vacina, a capacidade de abastecimento é coberta por diferentes laboratórios.”


META NA CAPITAL É IMUNIZAR 1,2 MILHÃO

A corrida pela imunização se repete nos postos da Secretaria municipal de Saúde, que, desde sábado, dia D da vacinação, já imunizaram 486.226 pessoas, o que representa 3% da população-alvo. A meta é chegar a 80% — cerca de 1,2 milhão. A coordenadora municipal de Imunização, Nadja Greffe, avalia a corrida aos postos como um resposta positiva da população. E garante que não há risco de faltar vacina. Atendendo a recomendação do Ministério da Saúde, a rede municipal só imuniza idosos a partir de 60 anos, crianças de seis meses a 5 anos incompletos (até 4 anos, 11 meses e 29 dias), gestantes, mulheres até 45 dias após o parto, doentes crônicos e profissionais de saúde.

— A população está entendendo o benefício da vacinação como uma forma importante de prevenção dos casos de influenza e procurando os postos. Recebemos do Ministério da Saúde 1,2 milhão de doses da vacina trivalente — disse ela.


“ACHO MUITO IMPORTANTE ME CUIDAR"

No Centro Municipal de Saúde Heitor Beltrão, na Tijuca, o movimento começou cedo ontem. Das 8h ao meio-dia, foram aplicadas 1.240 doses. O tempo médio de espera, segundo a Secretaria de Saúde, foi de 15 a 20 minutos. A aposentada Ruth Azevedo, de 70 anos, contou que, por volta das 10h, passou pela Rua Desembargador Isidro e, quando viu que a fila virava a esquina, desistiu. Já Maria das Graças da Silva, de 74 anos, esperou 30 minutos para ser vacinada. Ela preferiu ir logo cedo, pois temia que as doses acabassem:

— Eu vi na televisão que os estoques podem acabar. No sábado, não pude vir porque tinha outro compromisso, mas hoje (ontem) vim logo. Tomo a vacina todos os anos, acho muito importante me cuidar — comentou ela.

A Secretaria estadual de Saúde informou que, até o fim da tarde de ontem, 1,06 milhão de pessoas foram imunizadas: 492.422 crianças entre 6 meses e 5 anos incompletos (52,21% do público-alvo), 45.433 gestantes (25,94%), 452.523 idosos (21,45%), 7.726 doentes crônicos (26,84%), 66.863 profissionais de saúde (17,35%) e 290 indígenas (44,62%).

 Fonte: O GLOBO