Cientistas descobrem gene que faz pessoas parecerem mais velhas

O segredo da juventude ainda está longe de ser descoberto, mas cientistas holandeses alegam ter encontrado, pela primeira vez, um gene que ajuda a explicar por que algumas pessoas parecem ser mais novas do que outras da mesma idade. Segundo o estudo, publicado na revista “Current Biology”, aqueles que têm determinadas mutações num gene chamado MC1R aparentam ser, em média, dois anos mais velhos do que aqueles sem a mutação.

Esse gene é um dos responsáveis pelo surgimento da pele clara e do cabelo vermelho, mas mesmo quem é negro ou tem cabelos de outras cores, aparentará ser mais velho do que realmente é se tiver o gene mutante em seu DNA, dizem os cientistas. Por isso, o gene influenciaria a aparência das pessoas independentemente da cor da pele, do gênero ou até mesmo dos estragos causados pelo sol.

De acordo com os autores, o trabalho pode ajudar a compreender como fatores genéticos mudam o rosto das pessoas ao longo do tempo e, com isso, desenvolver formas de retardar os efeitos mais visíveis do envelhecimento. Eles acreditam que ainda serão descobertas muitas outras variantes genéticas que aceleram ou atrasam esse processo, especialmente no rosto.

— Este é o primeiro gene já encontrado com atuação sobre a idade aparente, e, sozinho, ele já consegue provocar um efeito de dois anos — disse ao jornal britânico “The Guardian” Manfred Kayser, professor de Biologia Molecular Forense no Centro Médico Erasmus, em Roterdã. — Sabemos que existem outras variantes genéticas para serem descobertas, estamos apenas no início.

ANÁLISE DE TRÊS MIL ROSTOS
Para realizar a pesquisa, Kayser pediu que um grupo de observadores estimasse as idades de cerca de três mil pessoas que haviam fornecido imagens de seus rostos e amostras de seus DNAs para o que é conhecido como Estudo de Roterdã — um conjunto de pesquisas da área médica que começou na década de 1980. Um dos primeiros dados obtidos foi que as mulheres frequentemente eram julgadas como sendo mais velhas do que de fato eram. Enquanto isso, grande parte dos homens era tida como mais nova.

Alguns cientistas levantaram a hipótese de isso ter ocorrido porque o padrão de jovialidade para a mulher, em nossa sociedade, é mais limitador do que para o homem. Porém, após avaliar o genoma das pessoas envolvidas, Kayser descobriu um fator em comum entre aquelas que pareciam mais velhas: variações do gene MC1R. Para confirmar o achado, ele repetiu a pesquisa em dois outros grupos de pessoas, um na Holanda, o outro, no Reino Unido. E, de novo, lá estava o mesmo gene.

Para Kayser, esse resultado tem implicações que vão muito além da criação de cremes faciais e outros cosméticos que podem, de certo modo, atuar sobre o MC1R. Segundo ele, a pesquisa pode jogar luz sobre o que a aparência dos indivíduos diz sobre a saúde deles.

— Ao encontrar mais genes envolvidos na idade aparente, podemos entender melhor a relação entre a idade que você parece ter e o quão saudável você é — especulou ele. — É uma abordagem diferente para a compreensão do envelhecimento saudável.

Alguns cientistas que não participaram do projeto, no entanto, ponderaram que pedir para observadores dizerem quantos anos as pessoas parecem ter é algo subjetivo. Cada um, alegam eles, perceberia de forma diferente o envelhecimento.

INFLUÊNCIA DO AMBIENTE
Pesquisadores da área também insistem que os fatores ambientais e comportamentais, além da carga genética, têm enorme influência sobre a aparência das pessoas. Por isso, nada de desespero para quem tem as tais mutações no MC1R.

— De nada adianta ter uma genética favorável se a pessoa fuma — exemplifica Maria Cátira Bortolini, pesquisadora do Departamento de Genética do Instituto de Biociências da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). — Do ponto de vista científico, o cigarro é incontestavelmente causador de envelhecimento da pele. Outros aspectos como alimentação e exercícios físicos ainda não são consenso entre cientistas, mas o tabagismo, sim, porque ele causa danos ao DNA.

Ela destaca, no entanto, que é interessante o estudo revelar outro papel para esse gene em particular, até então associado basicamente à pele clara e aos cabelos vermelhos.

— Só sabíamos que esse gene atuava na rota da pigmentação. Mas, como temos uma quantidade muito pequena de genes para a grande variedade de características fenotípicas que o ser humano tem, já era esperado que a maioria dos genes atuasse em rotas diferentes — explica Maria Cátira.

Pesquisadora do Laboratório de DNA da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), Leonor Gusmão acredita que a feição das pessoas está associada à saúde física delas apenas indiretamente. Não é possível, segundo ela, determinar que uma pessoa não está tão saudável quanto deveria apenas porque ela parece mais velha.

— Uma coisa é o envelhecimento celular, outra é a aparência. Problemas de saúde ou envelhecimento acelerado do organismo podem, sim, deixar indícios na aparência das pessoas. Mas o contrário é difícil de determinar — diz ela. — Mesmo com aparência boa, jovem, pode-se ter problemas fisiológicos.

Fonte: O Globo