Riscos da automedicação na terceira idade

O uso de medicamentos são os responsáveis por trazer benefícios à saúde como a cura de doenças, prevenção de outras e alívio de sintomas que incapacitam o bem-estar físico. Contudo, sem uma prescrição prévia por meio de um profissional da medicina a automedicação pode agravar os sintomas causadores do mal estar.

A geriatra Zélia Sobrinha de Santana explica que todo medicamento tem efeitos favoráveis e desfavoráveis e quando estes são prescritos busca-se sempre avaliar os efeitos e um saldo positivo para a saúde do paciente.

“Quando uma pessoa se automedica ela não faz essa avaliação corretamente por falta de conhecimento técnico, logo corre um risco elevado de ter um saldo negativo. E quando esse saldo negativo incide em um idoso, o qual já possui pouca ou nenhuma reserva fisiológica isso pode implicar em consequências graves como quedas, confusão mental, arritmias, insuficiência renal e outras, inclusive colocando em risco a vida desses idosos”, adverte.

A especialista cita o exemplo de uma pessoa que usa anti-inflamatórios para dores na coluna e joelhos. De acordo com ela essas medicações quando usadas por um período maior e em idosos aumenta o risco de úlcera gástrica, podendo levar a picos hipertensivos aumentando o risco de Acidente Vascular Cerebral (AVC). Acrescenta ainda que o uso desses medicamentos pode levar a insuficiência renal crônica, inclusive com necessidade de diálise para substituir o rim paralisado.

Ela observa que também é muito comum na população idosa o uso de medicamentos para dormir “tarjas preta”, os quais, diz ela, “levam a déficit de memória, lentidão do reflexo induzindo a quedas e ainda podem levar a confusão mental aguda com agitação psicomotora grave em pacientes com outras doenças crônicas agudizadas”.

“Outro exemplo clássico na geriatria é o uso de “medicamentos para labirintite” o qual quando usado por longos períodos levam ao desenvolvimento de sintomas da Doença de Parkinson, inclusive induzindo a diagnóstico equivocado desta doença”, alerta.

Efeitos colaterais

Em entrevista ao Diário da Manhã, a gerontologista e assessora técnica da Associação dos Idosos do Brasil, Marli Fernandes de Assis, destaca que um dos motivos que contribuem para a automedicação dos idosos começa pelo simples fato deles encontrarem barreiras na hora de conseguir uma consulta médica e acabam por optar pelo caminho que consideram mais fácil.

Ela observa que outro fator que leva ao consumo indiscriminado de remédios entre os idosos está no fato deles trocarem informações entre si e são induzidos a adquirir os medicamentos só porque funcionou para um do grupo.

“Eles conversam muito entre si e quando era recomendado o chá, eles tomavam chá, só que este não fazia tanto efeito colateral. No entanto, esse costume passou para os remédios e o problema se torna grave quando eles tomam o mesmo remédio, por exemplo, com miligrama distinta, o que pode afetar a saúde desse idoso por não ser a quantidade adequada para a doença”, avalia.

Marli explica que na própria associação presenciou caso em que uma idosa disse que tinha tomado um remédio para pressão e a miligrama era muito alta, não compatível. “É muito difícil a questão de medicação para os idosos. Eles confundem o horário do remédio chegando a repetir as dosagens e acabam fazendo muita confusão na hora de se medicar”, constata.

A aposentada Eurides Francisca Pires, 76 anos, reconhece que, às vezes, compra remédios sem prescrição médica. “Para ir ao médico é uma grande dificuldade e a televisão faz propaganda demais e a gente acaba comprando. Às vezes acontece de eu comprar uma coisinha ou outra, como Anador, remédio para dor na barriga, dor de cabeça, vitamina, para osteoporose, o Calcitran D3”, define.

Recentemente a aposentada retirou um câncer de intestino e chegou a tomar mais de nove medicamentos por dia. “Tenho uma cestinha onde deixo meus remédios e quando tive câncer cheguei a tomar mais de nove medicamentos por dia em horários intercalados, eram remédios fortes. Hoje tomo remédios de três em três horas e outro de seis em seis horas e, às vezes esqueço-me de tomar no horário”.

Eurides Francisca Pires, 76 anos, confessa que já comprou remédios sem prescrição médica: “Para ir ao médico é uma grande dificuldade e a televisão faz propaganda demais. A gente acaba comprando”. 

A gerontologista Marli de Assis explica que no caso de sua mãe que tem 95 anos, Ana de Assis Fernandes, toda medicação do dia é dada por uma filha, pois ela não tem mais condição de controlar os horários e a quantidade dos medicamentos. “Desde o momento em que ela não teve mais condições de controlar horário e os medicamentos, a gente passou a medicar”, informa.

A especialista no estudo do envelhecimento reconhece que a mãe é privilegiada por ter alguém para controlar os horários dos medicamentos. Pois, ela diz, “tem muitos idosos que moram sozinhos e não têm a felicidade de ter alguém para auxiliar quanto aos medicamentos. E esses acabam tomando muito, pouco ou misturam tudo o que pode incorrer em uma fatalidade”.

Fonte: Diário da Manhã