Veneno da cascavel é a aposta da FUNED para novo medicamento contra o estrabismo

Pacientes com estrabismo (doença que provoca o desalinhamento dos olhos) poderão contar com mais uma alternativa de tratamento nos próximos anos. Pesquisadores da Fundação Ezequiel Dias (Funed), em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), estão desenvolvendo um novo medicamento a partir do veneno da cascavel.

Os estudos concentram-se na ação de uma toxina – a Crotoxina – capaz de paralisar temporariamente o músculo que controla o movimento dos olhos, promovendo relaxamento e consequente equilíbrio, evitando que o olho “fuja” do alinhamento correto.

“Nas aplicações que fizemos em coelhos, percebemos que as concentrações testadas apresentaram efeitos semelhantes aos da toxina botulínica (botox), que também é empregada no tratamento do estrabismo. Não houve grandes alterações”, afirma a pesquisadora Sílvia Fialho, integrante do grupo que conduz os trabalhos com a Crotoxina.

Benefícios

Segundo ela, testes feitos na musculatura de animais maiores, como cães, também mostraram resultados parecidos com os do botox. “Já temos a comprovação da efetividade da toxina. E é importante ressaltar que todos os projetos desenvolvidos até agora foram aprovados pelos respectivos comitês de ética”, destaca Sílvia.

Semelhanças à parte, a Crotoxina poderá substituir a toxina botulínica futuramente, já que apresenta benefícios diferenciados: tempo de validade maior, por mostrar mais estabilidade na formulação; menores chances de causar reações alérgicas, em função do peso molecular menor; e efeito mais duradouro.

Outra grande vantagem, conforme a pesquisadora, é a fonte da toxina. “Ela é interessante, porque é um fármaco da biodiversidade brasileira, o que reduz os custos de produção do medicamento e favorece o desenvolvimento do país”.

Expectativa

Embora as pesquisas com a toxina extraída do veneno de cascavel estejam adiantadas, ainda não há previsão para o medicamento chegar ao mercado. Os estudos dependem, agora, de recursos para seguirem para as próximas etapas, que permitirão, dentre outras coisas, a disponibilização do remédio no Sistema Único de Saúde (SUS).

Com investimentos e financiadores, os pesquisadores da Funed poderão dar prosseguimento ao trabalho e realizar estudos não clínicos até chegarem aos testes em humanos. Existe grande expectativa em torno do avanço dos trabalhos, que começaram a ser estruturados em 1997, mas só foram retomados em 2013, com o apoio do Programa de Incentivo à Inovação do Sebrae-MG, junto à Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior.

“Estamos na dependência de conseguir parcerias. Então, é arriscado falar em tempo (de lançamento da Crotoxina). Mas os estudos clínicos já foram aprovados pela Conep (Comissão Nacional de Ética em Pesquisa) e estão bem adiantados. Conseguindo financiamento, será bem rápido”, diz Sílvia.

Adultos também podem desenvolver ‘olho torto’ com o tempo

Embora seja mais comum na infância, o estrabismo pode aparecer em qualquer fase da vida. Em adultos, é provocado por doenças ou traumas, por exemplo. Em todos os casos, uma das consequências mais graves é a perda completa da visão do olho estrábico, já que o próprio organismo tende a utilizar apenas o olho sadio, deixando o outro “preguiçoso”, se não houver tratamento adequado.

De acordo com a oftalmologista Maria de Lourdes Carvalho Tom Back, especialista na doença, nem sempre o olho “torto” apresenta deficiência visual, mas é preciso ter cuidado com ele, para evitar o agravamento do problema.
“Diante de qualquer anormalidade, a primeira coisa que deve ser feita é procurar um profissional. De preferência, um estrabólogo, o especialista na patologia”, recomenda.

Segundo ela, até os 6 meses de vida é comum as crianças apresentarem um estrabismo esporádico. “Mas se, em vez de ir e voltar, o olho permanecer torto ou se o desvio persistir a partir do sétimo mês, trata-se de um estrabismo congênito”.

Alternativas

Hoje, além da aplicação da toxina botulínica, existem diversos tratamentos – prescritos conforme as particularidades de cada paciente –, que vão desde o tampão até as intervenções cirúrgicas.

“Mas se a criança se desenvolver bem até os 3 anos e os pais não observarem nenhuma anomalia, o oftalmologista precisará ser procurado a partir dos três anos, para verificar se não existem outras doenças”, diz Maria de Lourdes.

 

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