Automedicação é responsável por quase 60 mil internações em 5 anos

A automedicação é um hábito comum entre os praticantes de atividades físicas. Ao primeiro sinal de dor, muitos atletas apelam para o uso de remédios sem sequer procurar um médico para descobrir a causa do desconforto. Além dos riscos de consumir medicamentos por iniciativa própria, a prática retarda a recuperação dos tecidos estimulados nos treinos.

- O corpo humano é formado pela união de sistemas diferenciados. Uma canelite, muito comum entre corredores, pode ter causas diferentes de pessoa para pessoa. Não adianta tomar um anti-inflamatório para a dor na canela se o problema estiver em outra parte do corpo. Cada indivíduo recebe os estímulos de forma diferente, e cada dor é causada por um problema diferente. É preciso desfazer a crença de que o tratamento é o mesmo para todas as pessoas - alerta o fisioterapeuta Leonardo Machado.
euatleta paracetamol menor (Foto: eu atleta)
De acordo com o Ministério da Saúde, foram registrados quase 60 mil casos de internações por automedicação no Brasil nos últimos cinco anos. A alta incidência alerta para o risco do consumo indiscriminado de remédios sem indicação médica. Analgésicos, antitérmicos e anti-inflamatórios são adquiridos livremente nas farmácias, e a maioria das pessoas desconhece as contraindicações de seu uso.

Um dos analgésicos mais populares do mundo, o paracetamol vem sendo acusado de aumentar o risco de problemas cardíacos, gastrointestinais e renais. Ingerido de acordo com as prescrições médicas, ele não oferece perigo, mas em doses exageradas causa danos ao fígado que podem ser fatais.

Metabolizado pelo fígado, 5% do fármaco se transforma em uma substância altamente reativa, a benzoquinoneimina, que normalmente se combina com glutationas presentes no órgão. Se a dose de benzoquinoneimina for muito alta, ela ataca as moléculas que formam a membrana das células hepáticas, destruindo o fígado.

A ingestão diária de paracetamol considerada segura para adultos é de até 3.000 mg. No entanto, por estar presente na formulação de diversos medicamentos, não é difícil consumir o dobro da dose.
A fim de reduzir o número de incidentes, o Food and Drug Administration (FDA), órgão dos Estados Unidos responsável por controlar alimentos e medicamentos, alertou a população para o perigo de consumir de uma vez mais de um remédio que contenha paracetamol. A ingestão de três doses alcoólicas durante o tratamento também ofereceria alto risco ao paciente.

Um relatório publicado na revista Annals of Rheumatic Diseases sugere que o uso de doses elevadas de paracetamol por longos períodos levaria a uma propensão 63% maior de morte inesperada. Haveria também uma chance 68% maior de sofrer um ataque cardíaco ou acidente vascular cerebral, e quase 50% maior de ter úlcera de estômago.

Segundo o FDA, não há dados suficientes para comprovar que os benefícios do uso de mais de 325mg de paracetamol valham os riscos da superdosagem. Estudos científicos apontam que anualmente a droga é responsável por milhares de 150 causas de mortes nos Estados Unidos, metade delas por insuficiência hepática aguda.

Fonte: O Globo